Dr Alberto Vieira
Director of the Centro de Estudos de História do Atlântico
(Centre for Studies of the History of the Atlantic)
MADEIRA - ISLAND OF ARRIVALS AND DEPARTURES
An island is a space open to the world, a harbour for regular arrivals and departures. Within and outside of Madeira, historical events and movements determined the many waves and cycles of the movement of Madeirans. These movements also determined the nature of the island’s attraction to other peoples.
European expansion opened the doors to settlers, the enslaved, merchants and adventurers. The archipelago of Madeira in the Atlantic became attractive to new immigrants, and played a role in providing new avenues for immigration for scholars, tourists, political refugees, and deportees.
Internal conditions, such as a lack of space, along with news and offers of paradise and wealth, set in motion a centripetal force that sent out our islanders almost all over the world. The first ports of call were Portuguese settlements in the Atlantic and in the Indian Ocean, followed by areas colonised by other empires, whether on continents or on islands.
The phenomenon of Madeiran migration can be defined in two main waves. First of all, Madeirans were involved in the (re)discovery, conquest and occupation of Atlantic and Indian Ocean spaces. Afterwards, the conditions offered in those spaces, along with the difficulties of life in the island, were reasons for the migration of many Madeirans.
Nineteenth century emigration exhibits different characteristics. Before that time emigration was based largely on external demands, along with a spirit of adventure linked to economic and political issues. The movement of peoples was an initiative of the Crown and of private ventures. The objective was the occupation of uninhabited spaces, as a means of consolidating Portuguese sovereignty.
From the nineteenth century, migratory movements began to be dominated by domestic issues, unique to Madeira itself. The land, which itself had received immigrants four hundred years before, now found itself as stepmother, incapable of meeting vital needs. For this reason, Madeirans were driven to the Americas, hoping to find improved living conditions.
Emigration has been a constant feature of Madeiran society. In the second half of the nineteenth century, emigration was fuelled by incessant market demands for labourers and also by difficult living conditions locally brought about by the economic crisis, or by the oppressive form of land ownership, through a system known as the contrato de colonia. Emigration was therefore considered the only escape from hunger and from this bondage.
In the nineteenth century, conditions did not favour the Madeiran. The crisis of trade and of wine production (the basis of the economy) caused famines. The most well-known of these famines happened in 1847, during which time José Silvestre Ribeiro was Governor.
On the other side of the Atlantic, it was a time of economic euphoria, with mining and agro-industrial crops, which could not survive after the abolition of slavery. In this context, the Madeiran islander, dispossessed of land inheritance and burdened by the demands of the economy, abandoned his own home. The emigrant went to these destinations, enticed by the offers of recruiters in service of the British, who were seeking to replace former slave labour. For this reason, many politicians of the era considered this form of labour recruitment as a new form of slavery, or as “white slavery”.
In the years 1844 to 1846, religious proselytism, led by Robert Reid Kalley, ultimately forced out many of those Madeirans who had decided to join this Protestant movement, when the State decided to persecute them.
The second phase of the diaspora, more important than the first, reached its peak in 1847. This was a result of the economic crisis, aggravated by the state of viticulture. The diseases that attacked vine cultivation (oidium in 1852 and phylloxera in 1872) dashed the only economic hope of Madeirans, forcing them to flee to the Hawai’ian islands. From this time, the destinations of Madeirans begin to diversify, and are directly linked with changes in the markets and labour demands.
The American continent was the principal destination for Madeirans in the nineteenth century, receiving 98% of Madeiran migrants. The three main destinations were the then British West Indies, North America and Brazil. The British West Indies was the main market to receive Madeiran labour, with 86% of legal migrants scattered across St. Kitts, Suriname, Trinidad, Jamaica and Demerara, areas known to the Madeiran and linked to Madeira through the wine trade. In the period from 1853 to 1881, more than 40,000 Madeirans migrated to the West Indies.
(Translated by J.S. Ferreira)
Madeira - Ilha de Chegadas e Partidas
(Original Version in Portuguese - Versão original em português)
A ilha é um espaço aberto ao mundo, um cais de permanentes chegadas e partidas. Os ritmos históricos internos e do entorno definiram diversas formas e ciclos da mobilidade dos madeirenses e a atracção da ilha para outras gentes.
A expansão europeia abriu as portas aos colonos povoadores, os escravos, os mercadores, aventureiros. O protagonismo do arquipélago no espaço atlântico definiu outra forma de atracção e novas vias de imigração com os cientistas, turistas, foragidos e perseguidos pela política, deportados.
As condições internas do espaço juntas com noticias e propostas aliciadoras de outros paraísos e riqueza definiram uma movimento centrípeto que projectou a ilha em quase todo o mundo. Primeiro às áreas de fixação lusíada no Atlântico e Indico. Também os demais espaços de outros impérios, seja em continentes ou em ilhas.
O fenómeno da emigração madeirense pode ser definido em dois momentos distintos. Primeiro tivemos a intervenção dos madeirenses no processo de descobrimento, conquista e ocupação de espaços no atlântico e indico. Depois foram as condições propiciadas por todos estes espaços, associadas as dificuldades da vida na ilha, a motivar a saída de muitos madeirenses.
A emigração do século dezanove assume características diferentes das situações. Até então estávamos perante uma saída de acordo com as solicitações externas, em que se aliava o desejo de aventura aos interesses económicos e políticos. O movimento de gentes era da iniciativa da coroa ou particular e tinha por objectivo a ocupação dos espaços não habitados como forma de consolidação da soberania.
A partir do século XIX os movimentos migratórios passaram a estar dominados por factores internos da própria ilha. A terra, que os recebera há quatrocentos anos apresentava-se agora madrasta e incapaz de satisfazer as suas necessidades vitais e, por isso mesmo, impelia-os para fora rumo às terras americanas na esperança de uma mudança das condições de vida.
A emigração foi uma constante da sociedade madeirense, na segunda metade do século XIX sendo alimentada pelas incessantes solicitações do mercado internacional da mão-de-obra como pelas difíceis condições de vida dos madeirenses provocadas pela crise económica, ou pela forma opressiva como se definiu o sistema de propriedade da terra, através do contrato de colonia. A emigração era assim considerada a única fuga possível à fome como a esta servidão.
No século XIX as condições não foram favoráveis ao madeirense. A crise do comércio e produção do vinho pautou a conjuntura económica, provocando crises de fome. Destas ficou conhecida a de 1847, quando era governador civil José Silvestre Ribeiro.
Do outro lado do Atlântico estávamos perante um momento de euforia económica, com a mineração ou safra agro-industrial, que não se compadecia com as medidas de abolição da escravatura. Perante isto o ilhéu, desapossado da terra pelo regime sucessório e de mando económico, abandonou o próprio meio e saiu rumo a estes destinos, aliciado pelas propostas dos engajadores ao serviço dos ingleses que os procuravam para substituir a mão-de-obra escrava. Por esta razão, muitos políticos da época consideravam esta forma de recrutamento de mão-de-obra como uma nova escravidão, ou seja, uma “escravatura branca”.
Nos anos de 1844-46, o proselitismo religioso, protagonizado por R. Kalley, veio a forçar a saída de muitos madeirenses que haviam aderido ao protestantismo, quando o Estado decidiu persegui-los. A segunda fase da diáspora, mais importante que a primeira, atingiu o apogeu a partir de 1847, sendo resultado da crise económica, agravada depois pela situação da viticultura. As doenças que atacaram a cultura da vinha (o oídio em 1852 e a filoxera em 1872) deitaram por terra a única esperança económica dos madeirenses, obrigando-os a sair rumo às ilhas de Havai.
A partir de agora os destinos da emigração madeirense diversificam-se e articulam-se de forma directa com as alterações da conjuntura do mercado de mão-de-obra.
O continente americano foi o principal porto de destino da emigração madeirense no século XIX, recebendo 98% dos emigrantes saídos da Madeira. São três as principais áreas de destino: Antilhas inglesas, América do Norte e Brasil.
As Antilhas inglesas foram o principal mercado receptor da mão-de-obra madeirense com 86% dos saídos legalmente, que se distribuíram de forma irregular por St. Kitts, Suriname, Trinidad, Jamaica e Demerara, áreas conhecidas do madeirense e ligadas à ilha através do comércio do vinho. No período de 1853 a 1881 entraram nas Antilhas inglesas mais de quarenta mil madeirenses.
© Alberto Vieira, CEHA, 2011